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MIRANDA (*)
Com frequência, a história se escreve com encontros e reencontros. Com pessoas, com desafios, com possibilidades, nas mais diversas circunstâncias e oportunidades. No vai e vem da vida, a memória retem o que tem significado para cada um. Sobretudo a memória do coração com uma expressão maior.
Os Encontros da EXECORDIS têm esse significado maior. A celebração de vida em que voltamos ao tempo para, celebrando os momentos em que fomos presenteados com o convívio no Seminário, reafirmamos os laços que construímos, sempre agradecendo ao Coração de Jesus pelas graças que recebemos.
Ao celebrarmos agora o XVIII Encontro, no Convivium Emaus, como os discípulos podemos renovar a esperança nos valores que cultivamos no “Conventão”, como sempre dito por Antônio Miranda de Mendonça, o nosso MIRANDA, homenageado neste momento.
MIRANDA esteve no Seminário Menor a partir de 1954, ao ingressar no Admissão, e lá ficou até 1959, quando fomos colegas de sala em turma que se transformou posteriormente no primeiro ano Clássico. Vinculado à diocese de Divinópolis, saiu em 1960 para se agrupar aos colegas da então recém-criada diocese.
A sua presença no Seminário Menor o marcou na vida e foi mencionada por ele no discurso de posse como Presidente do TRT de Minas Gerais em 06 de junho de 2001 ao agradecer “à Igreja Católica pela oportunidade de dar os primeiros passos em meus estudos”.
Miranda não só cresceu no saber, mas sobretudo no modo de ser gente. Não apenas se desenvolveu intelectualmente e, por onde passou e passa, sua presença torna-se marcante, pela sua extrema sensibilidade com os outros com os quais convive. É um humanista ambulante.
Quando fomos colegas de sala, em 1959, juntamente com Dauro, Walter Rosa, Geraldo Vilaça, Pereira e Gonçalo Tavares Alves, o Cabo, tudo aprendia rapidamente e a todos distribuía atenção e gentilezas.
Em janeiro de 1991, instigado pelo mato-grossense Gonçalo, o Cabo, recebeu em sua casa os dezesseis “moicanos”, expressão dele mesmo, entre os quais Mozart, Luiz Lamartine, Pércio, Dauro, Hermelino, Guaraci, Padre Pedrinho, entre outros. Foi a origem do que se tornou a EXSECORDIS, pela qual estamos aqui reunidos, pela décima oitava vez celebrando a amizade por nós plantada na nossa antiga casa.
Isto porque Miranda logo se movimentou e a partir de então, juntando-se a colegas dentre os quais o Pereira e vários outros que aqui estão, passamos a nos encontrar para matar saudade e, orando no Altar da Eucaristia, cantarmos o hino de agradecimento à Igreja pelas graças recebidas.
Assim como é próprio do filho voltar-se para o pai, chegou o momento de homenageá-lo por ter plantado a semente de que se originou a nossa EXSECORDIS.
Nos privilégios da vida, Miranda e eu nos encontramos novamente na Justiça do Trabalho como magistrados, ele a partir de 20 de maio de 1975 e eu em 7 de junho de 1979. Colegas na primeira instância, ele se tornou Desembargador em janeiro de 1991, o que ocorreu comigo em junho de 1993. Tomou posse em 06 de junho de 2001 como Presidente do TRT mineiro e todos puderam se privilegiar de sua atuação equilibrada e sempre defensora da importância da Justiça do Trabalho para a valorização do trabalho humano. Com firmeza e com o talento de quem sempre viu no processo, em que as partes litigam, um instrumento para estabelecer relações entre pessoas que se respeitam, deixou pegadas definitivas na Justiça por onde atuou.
Hoje no ramo jurídico prossegue a caminhada, agora em Escritório de Advocacia com antigos colegas do Tribunal e com o filho Rafael.
O que em tempo algum perdeu foi o amor pelas coisas simples, como as oriundas do meio rural, com os pés sempre em fazendas. Bem se vê seus sentimentos em relação às coisas e pessoas quando, em seu discurso de posse já referido, agradeceu com imensa saudade aos pais “pelo pouco que tiveram e pelo muito que me deram” assim como celebrou a Democracia, que o “permitiu deixar de ser mais um boia-fria pelas então poeirentas estradas de Pará de Minas”.
Miranda sempre cuidou da virtude de não deixar exemplos apenas pelas palavras que profere, mas ao longo da vida o que efetiva por atitudes e gestos.
Assim o temos como um farol a nos mostrar o caminho da simplicidade, em que todos devem ser acolhidos da mesma forma, independentemente da fortuna, condição social ou outro fator. Afinal, todos se identificam como pessoas e o Reino dos céus é das crianças, por sua espontaneidade e autenticidade.
Importante é que com ele descobrimos o valor da amizade, criada nos corredores e nos bancos escolares do Seminário, como força motriz no nosso caminhar. Efetivamente sentir as mãos de um amigo no ombro e seu olhar carinhoso nos faz acreditar até em coisas aparentemente impossíveis, pois que efetivamente não estamos sozinhos.
É assim, Miranda, que o vemos ao nosso lado. Como ensina Guimarães Rosa ao nos lembrar que “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
Nessa travessia, agradecemos a Deus por nos ter premiado com a sua amizade, que nos inspira, fortalece e ilumina.
Muito obrigado, querido amigo e irmão MIRANDA.
Carlos Alberto Reis de Paula
XXVIII ENCONTRO DA EXSECORDIS
CONVIVIUM EMAUS
23.08.2025
(*) Antônio Miranda de Mendonça , pioneiro na criação da EXSECORDIS,homenageado no XVIII Encontro Anual da Associação/2025