DA MORTE À VIDA: CRISTO RESSUSCITOU!
Estamos mergulhados no coração de nossa vida cristã. Não somos apenas religiosos,
mas muito mais: somos cristãos, discípulos de Jesus Cristo, morto e ressuscitado
para a nossa vida e salvação. Nestes dias, que já são pascais, proclamamos com toda
a disposição: “Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo é o Senhor, Cristo há de
voltar! Vem, ó Senhor!” E desejamos seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo,
para chegar, mais uma vez, à alegria de sua Ressurreição gloriosa!
“Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: ‘Desejei
ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que
não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus’” (Lc 22,14-16). Na
Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, começamos a Páscoa. É a Páscoa da Ceia!
Tornamos presente o acontecimento com o qual o Senhor instituiu o memorial
permanente de sua entrega. Corpo entregue e Sangue derramado, a dinâmica do amor
definitivo que nos é dado cada vez que comungamos! É o aniversário da Ceia
Eucarística, celebrada desde a sua instituição até o fim dos tempos. Em cada
momento, em algum lugar da terra, “Isto é o meu Corpo, entregue por vós” e “Este é o
Cálice do meu Sangue, da nova e eterna Aliança” são palavras ditas por um Sacerdote,
e são a realização do Mistério que sustenta a feliz esperança no coração da Igreja e
de cada fiel. E o fazemos na alegria de receber o mandamento novo do Amor recíproco,
tornando-o real e positivamente provocante no gesto do Lava-pés, para ouvir da boca
do Senhor: “Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis
bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar
os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para
vós” (Jo 13,12-14).
A Páscoa da Cruz é celebrada na Sexta-feira Santa, não como um dia de trevas e
tristeza, mas da infinita coragem e eterno amor com o qual o Senhor nos amou. De
fato, “antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de
passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até
o fim” (Jo 13,1). É a Páscoa que nos mergulha no amor maior de Deus, que entrega seu
Filho por amor de todos os homens e mulheres de todos os tempos, oferecendo-lhes o
resgaste de todos os pecados. Nós a celebramos com uma Liturgia bastante original,
que começa com grande silêncio e prossegue com a proclamação da Palavra de Deus,
culminando com a Leitura da Paixão segundo São João. Depois, fazemos as orações
universais, abrindo coração e vozes a todas as necessidades da humanidade,
cravando-as no lenho da Cruz. Em seguida, a adoração da Cruz é um gesto carinhoso e
humano, com o qual valorizamos a figura do Crucificado, também presente em nossos
lares. Tudo culmina com a Sagrada Comunhão, pois o Senhor morreu uma só vez, sua
morte foi gloriosa, ele ressuscitou e está presente entre nós! Alegremo-nos, pois
estamos na Páscoa!
A Igreja, em sua sabedoria, convida todos os fiéis a se recolherem em meditação e
oração durante o Sábado Santo. É tempo propício para ajuntar, em nossa cabeça e em
nosso coração, todos os ensinamentos e as práticas de vida experimentadas na
Quaresma. Na Sexta-feira Santa e neste Sábado não se celebra a Eucaristia, para
completar a vivência do Mistério Pascal na grande Vigília, em cada Paróquia e
Comunidade. No Sábado, é bom tomar conhecimento de que tudo o que se celebra conduz
à Renovação dos Compromissos Batismais, pelo que cada pessoa de nossas famílias deve
providenciar uma vela, a ser acesa no Círio Pascal na Vigília, que é a mãe de todas
as celebrações da Igreja.
A Páscoa da Ressurreição é celebrada de sábado para domingo, na Vigília Pascal na
Noite Santa, estendendo-se por todo o Domingo da Páscoa. A Liturgia da Luz começa
com a entronização do Círio Pascal, símbolo do Cristo, Luz do Mundo, no qual serão
acesas as velas dos fiéis, e que presidirá o espaço litúrgico até o Pentecostes, que
se conclui com belíssima Proclamação da Páscoa, rica da memória da expectativa e
realização do Mistério Pascal. Depois, característica de uma Vigília, a imensa
riqueza da Liturgia da Palavra de Deus, que nos conduz pela História da Salvação,
até chegar ao acontecimento da Ressurreição.
Assim chegamos ao Rito do Batismo, com a bênção da água, a celebração dos
Sacramentos da Iniciação Cristã dos Catecúmenos preparados em cada Paróquia, e a
renovação dos Compromissos Batismais. “Banhados em Cristo. somos uma nova criatura,
as coisas antigas já se passaram. somos nascidos de novo!” A Igreja celebra estes
ritos como uma grande homenagem ao que aconteceu com todos nós, mergulhados em
Cristo, para sermos novas criaturas, ao sermos batizados. Com toda a riqueza de
ensinamentos e graças recebidas, aproximamo-nos então do Altar, para a Liturgia
Eucarística, ponto auge da Grande Vigília!
Esta é a Páscoa, que traz consigo consequências importantes para nossa vida cristã e
o testemunho a que somos chamados. Primeiro, a vida nova recebida no Batismo, na
Crisma e na Eucaristia, há de resplandecer em nossa vida, deixando que o Cristo
Ressuscitado vença em nós todas as marcas do homem velho, para sermos pessoas
renovadas plenamente. Havemos de sair da Vigília Pascal com o sorriso nos lábios, o
amor no coração, a caridade a ser vivida e o amor à Igreja, Casa da Vida Cristã.
Tendo participado da Páscoa, dela nascem os nossos compromissos de dar testemunho de
Cristo, com criatividade e coragem e a prontidão para edificar o Reino de Deus, nos
ambientes em que vivemos, sem dar desculpas, que sabemos tantas vezes serem
esfarrapadas.
E o lugar privilegiado para amadurecer a vida recebida e celebrada na Páscoa é a
Comunidade Cristã, valorizando de modo especial o Domingo, nossa Páscoa semanal.
Ressoe entre nós uma afirmação dos primeiros séculos da Igreja. Em Abitene, uma
pequena localidade na atual Tunísia, quarenta e nove fiéis foram surpreendidos num
domingo, enquanto celebravam a Eucaristia, desafiando as proibições imperiais.
Presos e levados para Cartago para serem interrogados, foi significativa a resposta
dada por um cristão ao procônsul que lhe perguntava por que motivo violaram a ordem
do imperador. Respondeu: "Sem o domingo não podemos viver”. Depois de atrozes
torturas, os quarenta e nove mártires foram mortos. O Domingo, nossa Páscoa semanal,
será o espaço para renovarmos nossos propósitos e compromissos assumidos na grande
Solenidade Pascal.
Mortos ao pecado, vivos para Deus, alegres na esperança! Esta seja a nossa Páscoa!
Feliz Páscoa para todos
DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA
ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM/PARÁ
FONTE: www.arquidiocesedebelem.org.br