XVII ENCONTRO ANUAL DA EXSECORDIS CONVIVIUM EMAÚS – 24 DE AGOSTO DE 2024
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XVII ENCONTRO ANUAL DA EXSECORDIS
CONVIVIUM EMAÚS – 24 DE AGOSTO DE 2024
A abertura do Encontro se deu com a Santa Missa, concelebrada pelos Padres da Maturidade, residentes no Convivium Emaús, além das participações do Padre Reginaldo Pessanha e do Padre José Cândido da Silva.
Presidiu a Concelebração o Padre Carlos Geraldo Pinto de Oliveira, exsecordiano e mais conhecido como Padre Carlos Pinto.
Para memória do Evento, são postados, a seguir, um sucinto Currículo do Padre Pinto e o texto da sua homilia , que deixou a todos emocionados .
BREVE APRESENTAÇÃO DO Pe Carlos Geraldo Pinto de Oliveira , PRESIDENTE DESSA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
PADRE CARLOS VEIO de Diamantina em 1964 para Belo Horizonte.
NO SEMINÁRIO PROVINCIAL DO CORAÇÃO EUC ARÍSITICO DE JESUS (HOJE , ARQUIDIOCESANO) terminou os cursos de filosofia e teologia.
ORDENOU-SE em 1º novembro de 1969, em cima de um caminhão, no bairro Amazonas.
SEU trabalho pastoral sempre foi na região industrial e periférica de Belo Horizonte, geográfica e existencialmente.
Agora está com 80 anos e vive aqui no Convivium Emaús. Está muito feliz! E nós mais ainda, por tê-lo como presidente dessa Assembléia, escolhido, por unanimidade, pela Diretoria da EXSECORDIS.
HOMILIA DA MISSA DO ENCONTRO DOS EX-SEMINARISTAS DE BH
24.8.2024
1.Há um salmo que diz: “Ah como é belo e agradável viverem unidos os irmãos! É como um óleo fino e perfumado derramado em nossas cabeças, escorregando pela barba e besuntando a gola de nossa camisa. É com o sereno da madrugada, que cai sobre os poetas e seresteiros fecundando seu coração para cantarem o amor. É aí que Javé põe a sua bênção e a vida para sempre!” Sl 133 / 132.
É com este propósito que queria acolher a todos vocês para este encontro de irmãos.
Que bom que nós começamos nosso dia com a celebração eucarística. Pois, ela é uma grande ação de graças, que damos ao Pai pela ação de Jesus Cristo, na força do Espírito Santo. Ela é fonte e ápice de nossa vida cristã e deve ser um sinal evidente, um sinal bonito de nossa comunhão fraterna.
2.Mas, eu gostaria de aproveitar este nosso encontro junto ao altar do Senhor para recordar um pouco de nossa história de seminário. Não tenho a pretensão de ser exaustivo, apenas nomear pessoas que fizeram parte desta história recheada de coisas bonitas e alguns memes, pois é impossível não os ter num internato como o nosso.
3.Um dia um anjo torto me disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida. Eram os idos de 1960, precisamente 1964. Em Diamantina, o bispo, julgando que éramos comunistas, mandou-nos embora. Ele dizia: Vocês estão todos inoculados pela mosca do comunismo! E eu embarquei numa estação chamada Diamantina, a terra santa da colina. E o trem partiu serpenteando as montanhas de Minas com seu café com pão, manteiga não; café com pão, manteiga não... E eu, no peito, guardava a saudade dos que ficaram e o sonho e as incertezas de um jeito novo de viver. Veio também, em outra embarcação, um jovem chamado Dimas, que nós chamávamos de o bom ladrão. Enfim, desembarquei na estação Coração Eucarístico de Jesus e lá encontrei muita gente com os mesmos sonhos e incertezas que eu. Lá, encontrei Pedrinho, Tadeu, Benjamim, Carlos Alberto, Ordones, Tio Patinhas, Lousada, Bonafé, Teixeirinha, Etevaldo, o baiano, Éder, Vicente, Etelvaldo, Quirino, Rato, Valdemar Carabina, Zebuti. Havia alguns que gostavam de Zebutiar! Mais tarde, chegaram Pacheco, Esaú e Jacó e tantos outros. Da velha Bota, vieram alguns: Antoniazzi, que abriu caminho para Pigi, Luciano, Padovani, Fulvio, Cecco e mais alguns.
Nosso reitor era o Pe. Hélio Raso. Meio carrancudo, mas tinha posicionamentos lúcidos e firmes. Uma mente aberta para a nova realidade do mundo e da igreja. Suas homilias eram muitos apreciadas. Jogava futebol conosco. E também Dom Arnaldo que, com mais outros, formou a equipe dos 7, número bem simbólico. Esta equipe proporcionou abertura ainda maior. Podíamos trabalhar e estudar fora, assim nasceu o ICFT. Formar equipes de vida. Autorizou até o festival da música popular brasileira, aberto para as pessoas de fora. História do Lousada e a lanterna.
Eram novos tempos. Uma brisa mansa soprava e bafejava a vida, na igreja e na sociedade.
Eclesialmente, era o Vaticano II, o novo Pentecostes, na expressão de João XXIII. Nós nos formamos embalados por este sopro novo do Espírito, que nos ajudava a perceber um jeito novo de viver e ser igreja. A partir daí, o jeito novo, concreto de traduzir a igreja era como “povo de Deus peregrino”, ou seja, uma igreja feita de gente com cor, com cheiro, com sexo, uma igreja caminhante, encarnada na história. Por isso mesmo, santa e pecadora.
A liturgia agora era em vernáculo, portanto, mais viva, mais participativa, onde todos exercem seu sacerdócio: o comum de todos os fiéis e o ministerial, próprio dos padres. Memes do Pigi e do Vicente.
As realidades terrestres, como a ciência, a política, têm sua autonomia e não precisam mais do aval da igreja para percorrerem seu caminho de busca, de pesquisa, de novas descobertas.
Lá fora, uma rosa nascia exalando o perfume de uma nova sociedade mais justa, mais solidária, com reformas de base na educação. Enfim, um sentido de vida mais comunitário em que houvesse pão, saúde, educação para todos. Pois, a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada!
Até que um dia, a roda da vida carregou a roseira para lá com o firme propósito de despetalar a rosa, prendendo, batendo, torturando e matando a muitos que queriam cuidar da rosa.
A vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e desinquieta. O que ela quer da gente é coragem! E assim caminha a humanidade
4.Aprofundamento da Palavra de Deus ( Ap 21,9-14 ; Jo 1,45-51 )
Não poderia deixá-los ir embora sem falar um pouco da Palavra de Deus proclama hoje em nossa liturgia, dia de são Bartolomeu, apóstolo de Jesus.
Como no caminho de Emaús, os discípulos sentiram arder o coração ao ouvir o que Jesus dizia e O reconheceram ao partir o pão. Que bom seria que a palavra de Jesus não só aquecesse o nosso coração, mas nos ajudasse a reconhecê-lo nas pessoas, nos fatos e na vida de cada dia. Corações quentes, pés a caminho!
Dizem por aí que a história acabou, as utopias caíram. Creio que este modo de pensar é fruto de uma mentalidade pragmatista, liberalista, individualista. Nada de sonhos! Nada de amanhã será um novo dia! Vidas não importam!
Mas, nós, discípulos de Jesus Cristo, continuamos acreditando que os sonhos valem a pena e podem se realizar. Isto não é messianismo fora de lugar. Continuamos acreditando na utopia de uma sociedade fraterna, solidária, justa. Não sabemos nem a hora nem o dia – oú tópos. É a este sonho que já o profeta Isaías ( 65,17-25 ) chamou de novo céu e nova terra. Não haverá mais crianças que vivam apenas alguns dias. Os idosos levarão a pleno termo os seus dias. Os jovens morrerão aos cem anos. As pessoas construirão casas para nelas morar. Plantarão vinhas para comer seus frutos. Os trabalhadores consumirão os produtos de seu trabalho. E o lobo e o cordeiro pastarão juntos.
E João, no Apocalipse ( 21 ) chamará a esta realidade de nova humanidade porque será o lugar de partilha e de reunião fraterna. Será a plena realização da nova aliança de Deus com a humanidade, em Jesus Cristo. O fim da história é a própria vida.
Os povos originários a chamarão de terra sem males, que dom Pedro Casaldáliga e M. Nascimento cantaram tão bem, em prosa e verso, na missa da terra sem males. Aí as plantas nascem por si próprias, a mandioca já vem transformada em farinha. As pessoas não envelhecem nem morrem nem haverá sofrimento.
A isto, Jesus chamou de Reino de Deus para o qual ele foi ungido pelo Espírito do Senhor para que os cegos vejam, os surdos ouçam... e venha o ano da graça do Senhor. Um Jesus que se fez homem no ventre de Maria e, na carpintaria de José, se fez trabalhador. Um Jesus que participou da fadiga humana. Um Jesus profeta do Reino, amigo dos pobres, apaixonado pelo Pai e por sua vontade. Um Jesus cuja essência da pregação e da prática é o Reino de Deus. Reino imanente e transcendente. Histórico e escatológico. Presente e futuro. Já ainda não. E nós temos que estar a serviço deste reino.
O evangelho ( Jo 1,45-51 ) nos fala de uma reunião de Jesus com os primeiros discípulos. Interessante que este encontro não é um encontro vocacional, mas descoberta do mistério de Jesus. O que estais procurando? E o que caracteriza este seguimento é: Ver, ou seja, reconhecer que Jesus é o Messias. Permanecer, ou seja, partilha de vida, de projeto, de destino. Vida de comunhão. Testemunhar, ou seja, quem segue Jesus torna-se testemunha dele.
Creio que todos nós, quando entramos para o seminário, procurávamos ser padre. Mas, com o passar da história, alguns se tornaram padres. Outros tantos descobriram que não era bem isto o que eles procuravam. E saíram e se tornaram juízes, advogados, jornalistas, psicólogos, professores etc.
Entretanto, tanto nós, padres, quanto vocês, temos muito em comum, além da amizade. É o seguimento de Jesus. Somos todos discípulos do Senhor Jesus porque cremos na sua palavra e na sua prática libertadora. Cremos nos valores do evangelho que ele nos ensinou: Amor, justiça, solidariedade, compaixão, respeito e acolhimento do diferente. Cremos na unidade na diversidade.
Cremos sobretudo na esperança de que a vida pode ser melhor. Como dizia o poeta da esperança, Charles Péguy : “ A esperança é uma menina faceira que tem duas irmãs mais velhas – a fé e a caridade. Mas, as irmãs mais velhas não saem à rua sem levá-la porque ela vê aquilo que será. A esperança é a mais humilde das virtudes porque permanece escondida nas pregas da vida!”
John Lennon maravilhosamente cantou: Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz! Você pode até dizer que eu sou um sonhador. Mas, não sou o único. Espero que você se junte a nós. E o mundo viverá como um só. Uma irmandade de homens e mulheres sem ganância e sem fome!
Ou então Paulo: “A esperança ilumina a fé e por isso ela não decepciona! Porque Deus derramou seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo que ele nos deu!” ( Rm 5 ).
Que o Espírito, que transforma o pão e o vinho no Corpo e Sangue do Senhor, fecunde o encontro de hoje e faça daqueles que um dia foram semente ( seminaristas ) sejam sempre semeadores de valores que ajudem a construir vida digna para todos e todas onde justiça e paz se abraçarão!
LSNSJC! (*)
* LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!