DESPERTAR

 

Miríades de histórias mordiscam-me a memória,

qual gatas meninas, miam e me alucinam

“amassando pão “ no meu peito e coração.

 

Doces ou doridas

são de cores sortidas,

 

um caleidoscópio ondulante,

às vezes vão atrás,

às vezes adiante

das minhas próprias incursões.

 

Oh! Gatas meninas,

estas sapecas

escalam as janelas

chamando por Anna,

não sei se querem comida

ou apenas uma guarida

no que me resta de vida.

 

Venham, venham, lindas

com suas cores floridas,

esticarem-se siamesas

com inóspitas garras,

terrível ar de tigresas

se enamorarem de mim,

contem-me segredos

de que eu já não lembro.

Quero alguns anos a mais

para contar as histórias

que não quero deletar.

 

A gata Pénelope

se encastoa na janela;

de minha cama, bem deitado

vejo lá fora o verde e o sol.

Um avião turbinando

arrebenta o silêncio

poerejando a mata

e me traz vontade de viajar,

jogar fora as máscaras,

as ditaduras e os maus presságios

e num andante deliciado

criar redondos adágios

para a vida enfeitar.

 

Geraldo Felix Lima

Confins – 06/06/2022.